Universo Paralelo #9: Resenha Ponte para Terabítia (1/10)

Livro: Ponte para Terabítia
Autora: Katherine Paterson
Tradução: Ana Maria Machado
Lançamento: 1977 (nos EUA); 1999 (no Brasil)
Editora: Salamandra (Moderna)
Páginas: 160

ponte

 

Sinopse

Jesse Aarons tem 10 anos, acaba de ingressar na 5ª série e o que mais deseja na vida é ser o campeão de corrida da escola. Bem agora, quando tem todas as chances de ganhar, tinha de aparecer Leslie Burke, uma novata na vila – e, ainda por cima, menina! – para desafiá-lo e, pior que isso, ganhar dele?

Mas Jess não sabe que Leslie vai lhe propor desafios muito maiores que ganhar ou perder uma corrida. Pouco a pouco, ele vai se afeiçoando a essa menina, tão diferente das outras de sua comunidade rural. Até que, juntos, os dois criam um reino mágico e solene, chamado Terabítia, onde governam soberanos, protegidos das ameaças e zombarias da vida cotidiana.

 

Finalmente o Desafio de Férias começou, e essa é a primeira das dez resenhas dos livros escolhidos. Confira as outras escolhas neste link.

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Ponte para Terabítia é o livro que inspirou o filme homônimo, lançado em 2007 e que conta com as atuações de Josh Hutcherson (Jogos Vorazes), AnnaSophia Robb (A Fantástica Fábrica de Chocolate) e Zooey Deschanel (500 dias com ela). Apesar de já conhecer a história pela ótica da adaptação, me surpreendi positivamente com a obra original. Com sua simplicidade, já que se destina ao público infantil, consegue ser uma história sincera e com reflexões interessantes sobre a infância e os dramas que ela carrega.

Com narração em terceira pessoa e focada em Jesse e seus pensamentos, é claramente um livro para crianças, porém é uma história tão cativante que pode ser lida por pessoas de todas as idades. Inicialmente, temos um vislumbre da vida de Jesse e de sua família. Com poucos recursos e vivendo no campo, os pais trabalham o dia todo e Jesse tem quatro irmãs. Com um pai ausente, a mãe sendo bem rígida e as duas irmãs mais velhas o tratando mal, Jesse não tem uma boa relação com sua família, e a pessoa de quem é mais próximo é a irmã de sete anos, May Belle. Além disso, a atividade preferida do garoto é desenhar, mas ele esconde isso da família e dos colegas da escola por sofrer preconceito pelo fato de querer ser um artista. Nesse contexto, ele tenta ser o corredor mais rápido dentre os alunos da 5ª série de seu colégio, mas com a chegada da vizinha Leslie, ele acaba não conseguindo, já que ela vence a corrida. A chegada de Leslie e a quebra da expectativa de Jesse é a grande questão do livro, não necessariamente na corrida, mas na forma como o garoto encara seus dilemas e interage com as pessoas que ele vive. Apesar das diferenças iniciais, Jesse percebe que ele e Leslie se parecem muito, e a amizade que surge entre eles faz com que ele amadureça e se torne alguém muito melhor.

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filme

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O livro aborda, em vários momentos, personagens que contrariam o comportamento da conservadora comunidade em que Jesse vive, chamada Córrego da Cotovia. Coincidência ou não, a maioria dessas personagens são femininas. Os dois maiores exemplos são a professora preferida dele (pela qual ele é “apaixonado”) e Leslie, sua melhor amiga. A professora, Miss Edmunds, dá aulas de música, e é vista como hippie pelas pessoas da comunidade por se vestir de um jeito mais moderno (para a comunidade, claro), e apoia Jesse no seu sonho de ser artista, além de incentivá-lo a crescer culturalmente. Já Leslie, que veio de Washington, é o grande instrumento de mudança na vida dele.

Leslie é diferente de todas as pessoas que Jesse conhecia: tem a mente aberta, é criativa e inteligente, gosta de ler, explorar, conhecer coisas novas. Leslie e seus pais não têm televisão em casa, uma crítica da autora à alienação que a televisão causa, citada em outros momentos. Além disso, Leslie e seus pais são cultos, discutem desde política até literatura, o que fascina Jesse, já que é uma exceção no lugar em que vivem. Eles também dialogam bastante, como pode ser visto em um dos trechos mais interessantes sobre a família de Leslie:

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“Meus pais estão querendo reavaliar sua escala de valores. […] Eles chegaram à conclusão de que estavam muito ligados em dinheiro, sucesso, essas coisas, então resolveram comprar aquele sítio velho, e cuidar dele um pouco, trabalhar a terra, e pensar sobre o que é mesmo importante na vida.”

Leslie

 

Jesse e Leslie criam juntos o reino de Terabítia, uma área de um bosque na outra margem de um riacho. Com a imaginação fértil de Leslie, eles imaginam que lutam contra monstros e defendem o reino, e levam até o cachorro que Jesse deu de presente a Leslie como “guardião”. A fuga da realidade dos dois amigos nesse reino fictício acaba por ajudá-los a enfrentar os problemas da realidade de uma forma que eles possam ser criativos e se divertir. Essa é uma das reflexões do livro: apesar dos problemas que cada um enfrenta, eles ainda podem aproveitar a infância em todos os seus momentos. Um fato interessante é que a autora cita As Crônicas de Nárnia várias vezes, inclusive Leslie empresta os livros a Jesse, e acredito que o reino de Terabítia possa ter sido bastante influenciado pelo clássico de C. S. Lewis.

Dois eventos se destacam ao final do livro: uma revelação sobre a maior bully  da escola, Janice Avery, e o acontecimento mais chocante do livro (evitando spoilers). O primeiro faz os dois amigos reverem alguns julgamentos que faziam sobre o comportamento de Janice, uma mudança interessante no arco da personagem. Já o segundo acontecimento é de extrema importância para Jesse, já que superá-lo o aproxima de seu pai e da irmã May Belle, além de fazê-lo amadurecer e torná-lo mais compreensivo com tudo que acontece em sua vida.

 

Nota do livro: 4,5/5

Uma história cativante e sincera sobre a infância, os dilemas que ela traz e os bons momentos, por meio da história de Jesse, um garoto que através da amizade de Leslie amadureceu e passou a enxergar sua vida e seu futuro de um jeito diferente. 

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assinatura karen caires

6 thoughts on “Universo Paralelo #9: Resenha Ponte para Terabítia (1/10)

  1. Que resenha maravilhosa é essa guria?
    Confesso que fiquei curiosa para saber qual o acontecimento marcante que aproxima o personagem de seus pais.
    Em questão a televisão, acho que existe muita coisa boa que passa, mas também existe muita coisa ruim. Tudo tem um lado bom e ruim, as vezes só depende da pessoa o que ela quer suprir.
    Esse livro mexe com algo que falta na nossa sociedade, o que me deixou intrigada.
    Vou dar uma olhada no livro na próxima vez que for a livraria.
    Beijão
    http://www.cappuccinoebobagens.com

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    • Obrigada! Concordo com você, a televisão pode transmitir muitas coisas boas, assim como ser instrumento de alienação, que é o que a autora critica. É realmente interessante um livro infantil transmitir tantas reflexões construtivas. Espero que goste da história!

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  2. Depois dessa resenha imagino que o livro seja maravilhoso pelos dilemas que levanta, nada melhor que uma leitura construtiva (e é curtinho, 160 páginas resulta num tempo de leitura ótimo pra quem não tem muito tempo, assim como ajuda se o objetivo é ler para alguma criança próxima). Muito boa resenha! Beijos

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